Nesses últimos dias, consultei mais de uma dezena de executivos de empresas dos setores de alimentos, bebidas, pneumáticos, mineração, construção civil e de varejo. A todos eles fiz as mesmas perguntas sobre a crise: se ela já chegou, como chegou e quais medidas estão tomando.
Praticamente todos afirmaram que a crise chegou com as determinações superiores de tomarem medidas preventivas, a fim de contornar a crise futura, pois o ano que vem será de grande restrição. Perguntados sobre quais foram os impactos diretos já causados pela crise, disseram que ainda não sofreram impactos concretos, mas que eles ocorrerão no ano que vem. Em relação às suas operações, todos também afirmaram que está normal e que, na prática, o mercado continua funcionando do mesmo jeito.
Então, como podem afirmar que estão vivendo uma crise? Simples, a crise está na pressão interna comandada pelo board da empresa que determina a tomada de medidas restritivas imediatas.
A crise é perceptiva e suas conseqüências ocorrerão a partir das próprias medidas preventivas adotadas e, como essas conseqüências terão seus efeitos no ano que vem, a perspectiva da crise se confirmará.
Como disse no texto anterior, essa é uma análise do ponto de vista de Relações Públicas, que precisa avaliar a situação pelo lado de fora, a fim de fazer o julgamento correto e entender o que realmente está acontecendo.
Ela deve servir para orientar o profissional, que, se quiser oferecer sua real contribuição ao processo de proteção corporativa, não deve se deixar envolver pelo movimento da crise. Se você se envolver e fizer parte da crise, perderá sua capacidade de julgamento, precípua e fundamental do assessor e conselheiro da organização. Como pode o profissional de comunicação identificar os cenários que tem diante de si e dar as orientações corretas, se ele próprio estiver com os olhos encobertos pela névoa cinzenta da expectativa da crise.
O profissional de comunicação tem que enxergar através dessa nuvem, olhar o outro lado da crise e extrair dessa análise as oportunidades que a empresa tem de se superar e manter sua posição durante as circunstâncias tumultuosas que terá pela frente.
Faça como a Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que declarou ao M&M, que sua estratégia a partir de agora será de investir mais em propaganda e promoção e cumprir sua programação de inaugurar mais 60 lojas no ano que vem. Ou como a Comissão Européia, que pediu aos países membros do bloco europeu, que destinem 200 bilhões de euros para implantar um conjunto de medidas destinado a estimular investimentos na indústria, criar novos empregos e recuperar o consumo na Europa.
Você deve orientar os executivos da empresa e não correr em círculos junto com eles. É você quem deve dizer qual é o melhor e correto posicionamento perante o mercado e seus stakeholders. O mercado está aberto e cheio de oportunidades e a própria crise é uma delas. Só depende de você e de como irá se posicionar e fazer valer sua diferença exclusiva.
A crise pode continuar firme e forte, mas não em sua cabeça.
E isso, apesar da crise, para o bom profissional, deve ser tão simples como o nascer do sol todos os dias.