Até aqui, a análise a respeito do Consultor esteve ligada ao perfil comportamental, a sua postura e marca de presença em qualquer ambiente de atuação.
Observa-se no mercado que a postura é o elemento mais valorizado pelo profissional que deseja se tornar um Consultor. É verdade que o comportamento adequado é fundamental para a confiança do cliente, entretanto, é apenas uma representação, que serve para projetar a imagem do profissional, seja para reforçar sua competência ou camuflar deficiências.
Consultor Professoral
Se sua postura, para o mercado, é o primeiro salto, então, ele terá que praticar muitos outros ao longo de sua carreira até adquirir competência e ser reconhecido como tal. Nessa caminhada, o segundo salto é o de encontrar o equilíbrio entre a teoria e a prática, pois nada pior para o Consultor do que a prevalência de um dos lados. Tanto a teoria quanto a prática, isoladas, não são capazes de dar ao Consultor o peso correspondente necessário para o reconhecimento espontâneo e natural de sua competência.
O Consultor teórico e professoral não vai muito longe em sua busca de resultados, se torna improdutivo em seus trabalhos e enfadonho perante seus clientes. Já o lado eminentemente prático guarda outra deficiência. Quando o cliente precisar de diagnóstico chamará outro profissional, deixando o profissional prático reservado para fazer alguma coisa. Portanto, quem quiser alcançar o nível adequado terá que buscar o equilíbrio entre a teoria e a prática e isso significa compreender conceitualmente o que faz na prática e vice–versa.
O terceiro salto é causa e efeito dos dois primeiros. Trata-se do modo como o profissional pensa sua carreira. Durante o tempo em que percorre seu caminho, ele terá que estar muito consciente em relação ao seu papel e função.
Consultor Especialista
Se ainda não é reconhecidamente um Consultor também não é recomendável que se apresente como especialista numa das atividades decorrentes do processo evolutivo de sua carreira. O princípio da especialidade é incompatível com a carreira do Consultor. São dois caminhos diferentes, que não se encontram ou completam. Não é possível somar especialidades, imaginando que o resultado dessa soma o tornará um Consultor. O profissional que fizer isso será especialista em várias áreas de atuação, mas nunca um Consultor de Comunicação.
Funciona como na salada, que poderá receber qualquer tipo de ingrediente: o alface, o tomate, a batata, o pepino, o azeite, o vinagrete ou a maionese. Eles formarão um conjunto visualmente agradável e até saboroso, entretanto, estarão sempre separados entre si. É muito diferente do que ocorre com o caldo de ervilhas com batatas, onde a composição é alcançada transformando os vários ingredientes em um único e novo elemento.
Construir uma carreira em assessoria de imprensa, media training, administração de crises ou em publicações e eventos e depois em responsabilidade social, por exemplo, não é suficiente para transformar um profissional em Consultor, pois sempre faltará o elemento condutor que justifica a existência dessas áreas. Nesse caso, a soma das especialidades dependeria de um amálgama natural que não existe nessas condições no mercado.
O Amálgama do Consultor
Para criar e reter esse amálgama, o profissional terá que dar um novo salto em direção à real sustentação da comunicação. Terá que estudar até alcançar um nível de conhecimento que o permita identificar as causas, o estado e as conseqüências de uma situação real e antever os acontecimentos aplicando as medidas necessárias para a solução de qualquer problema no ambiente de ação.
Esse resultado só é alcançado quando o Consultor se lança aos desafios de ir muito além das técnicas tradicionais de comunicação, ligadas aos níveis e campos midiáticos. Aliás, os instrumentos de mídia (interna e externa) na comunicação estão reservados num segmento considerado de apoio e servem, estes sim, como ferramentas para reforçar a concepção e ação da comunicação organizacional.
A comunicação praticada como uma ação de mão única, desenvolvida pela divulgação jornalística, não pode nem sequer ser chamada de comunicação, porque comunicação sem “feedback” não é comunicação, é divulgação. Hoje, há um grande número de profissionais que defende o conceito da comunicação de duas mãos. Ele foi inovador enquanto a comunicação empresarial ainda estava navegando em águas rasas, mas com sua ampliação esse conceito também se tornou ultrapassado.
O Efeito Digital na Comunicação
Diante da evolução das redes sociais e a comunicação digital, os conceitos de mão única e de comunicação de duas mãos, já foram completamente descartados porque são agora obsoletos.
As pessoas e as empresas envolvidas nesse novo modelo deixaram seu status de independência e assumiram - ainda que não queiram ou admitam – a situação de interdependência. Isso porque, ainda que a comunicação seja dirigida, o efeito não é mais apenas e simplesmente de uma pessoa para outra. Quando duas pessoas se comunicam elas envolvem um número maior de participantes que são integrados pelas redes sociais. Por causa disso, hoje o profissional precisa trabalhar a comunicação de forma dinâmica como uma rede, como uma teia, onde cada toque, em qualquer ponto, reflete e impacta todos os níveis e sentidos.
Agora para assegurar o mesmo resultado anterior, a empresa precisa interagir dentro dessa nova e complexa dinâmica. Se relacionar de forma direta e dirigida, mas entendendo que está se relacionando com um número maior de pessoas ao mesmo tempo. Não existe mais a idéia simples de comunicação com públicos de interesses ou até mesmo com seus stakholders.
Esse processo de relacionamento extrapola o conceito da comunicação tradicional, mas não exclui o princípio da comunicação de relações públicas, pois ela ainda precisa ser precedida de conceitos, que não são próprios da atividade puramente comunicacional.
O Consultor de Relações Públicas
O candidato a Consultor de Comunicação irá encontrar esses fundamentos na concepção de Relações Públicas e a partir deles deve orientar sua carreira profissional.
A concepção de Relações Públicas é ampla, seu fundamento é completo e envolve, além de todo o processo organizacional, também princípios de relações humanas.
Ela é definida como filosofia organizacional com funções administrativas e de comunicação. Na prática, tem a responsabilidade de ajudar as organizações a encontrar sua identidade, por seus valores organizacionais, éticos e morais, recomendando mudança de postura e atitudes, transformando esses princípios em conceitos que são transmitidos por meio de mensagens para que cada parte envolvida perceba e reconheça tais características. E isso é muito mais do que se aprende e se desenvolve no mercado.
A comunicação de Relações Públicas se dá de forma organizada, aplicando-se técnicas de segmentação de públicos por interesses em comum, considerando os stakholders e as pessoas que compõem esse universo. Cria canais de comunicação, mas não se limita a disseminar e divulgar informações. Desenvolve ações que determinam o melhor nível de relacionamento da empresa com todos eles, respeitando suas características individuais e adotando uma abordagem e linguagem específicas para que o resultado da comunicação seja o mais efetivo possível.
A Orquestra, a Harmonia e o efeito 'Surround"
Quando o Consultor avança nesse sentido, ele descobre a importância da cultura organizacional, das percepções individuais, do relacionamento e do princípio da harmonização das expectativas e dos interesses em comum. Encontra razões muito mais fortes para atuar no ambiente da comunicação.
Alguns se referem a isso como o princípio da orquestra, da harmonia entre as partes, onde o profissional e Consultor de Comunicação é o Maestro Regente.
Mais do que a harmonia dos instrumentos, o Consultor tem que considerar o efeito do som provocado por eles, como no som “stereo”, que se origina de inúmeras fontes, mas se localiza centralizado num ponto comum, criando uma dimensão equilibrada, harmoniosa e com um resultado extremamente agradável aos ouvidos e mentes humanas.
Depois, num processo natural de evolução, o resultado tem que se transformar no efeito “surround” que percorre todo o ambiente, em forma de ondas e balanços, num movimento harmonioso atingindo todos os espaços e amplitudes. Alcançando cada um dos elementos presentes, mantendo a alta fidelidade e audição perfeita de todos os equipamentos, seus respectivos sons e efeitos.
Este é, inquestionavelmente, o salto mais importante – o pulo do gato - para o desenvolvimento da carreira profissional de quem quer se tornar um verdadeiro Consultor de Comunicação. Para isso, o profissional deve debruçar-se sobre o campo do conhecimento humano e das relações humanas, deve desenvolver o sentido próprio da concepção de Relações Públicas, o amálgama da organização e da comunicação.
Flávio Schmidt
Profissional de Relações Públicas - Conrerp 2ª Região – 1723
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Setembro 2010