Este texto foi motivado pelo ataque terrorista que atingiu as Torres Gêmeas em Nova York, há 10 anos, e tem como objetivo associar a gravidade do efeito do fato ao processo de comunicação desenvolvido pelos meios de comunicação de todo o mundo.
Nem seria preciso esclarecer, mas sempre é bom ressaltar, que somos integralmente contra qualquer ato violento, seja ele de terror ou de dominação, concreto, explícito ou subjetivo.
É igualmente necessário ressaltar que a própria retaliação e o revide violento por parte do lado atingido é também repugnante. Mas, como contestar se estamos diante de fatos inexoravelmente reais e extremamente ofensivos à pessoa que somos e à segurança nacional e social de cada uma das nações e sociedades que representamos.
Muito mais do que avaliar o comportamento dos meios de comunicação, que sem dúvida nenhuma têm papel preponderante no combate ao terrorismo, o objetivo é que cada um faça sua própria reflexão a respeito dos acontecimentos dos últimos dias, mas principalmente, que faça uma reflexão sobre a complexidade humana e o comportamento individual do homem diante da vida, seja a partir de suas ideologias, crenças e fé, seja a partir de seus interesses econômicos e estratégicos.
Não importa o tipo de organização, se na forma de nações, em sociedades, em regiões ou, até mesmo, em grupos de atividade profissional, haverá sempre um tipo de interesse envolvido.
Independentemente da forma ou da intensidade com que são manifestados, esses interesses individuais e de grupos estarão sempre presentes. Devemos, portanto, saber controlá-los, neutralizá-los para que se tornem menos ofensivos e desastrosos para a sobrevivência e a paz na humanidade.
Como profissional de relações públicas e presidente do CONFERP, não poderia tratar do tema sem partir da visão que norteia nossa atividade. Do ponto de vista de Relações Públicas, independentemente da brutalidade e da animalidade do ato, há a necessidade imperiosa de analisar os dois lados.
Ainda que injustificados, os atos terroristas, por seu lado, são criados e praticados para chamarem atenção, trazem em seu conteúdo uma mensagem implícita e têm como objetivo causar impacto na opinião pública local, regional e mundial.
Aparentemente buscam, com isso, demonstrar a própria revolta e a repugnância a um determinado regime ou ordem mundial imposta por uma outra parte que pretende ser dominante utilizando outros instrumentos, mas usando, da mesma forma, o simbolismo dos atos e dos fatos, como campanhas de comunicação, de sugestão, para também causarem impacto na opinião pública.
No dia 11 de setembro, minutos depois do atentado, as emissoras de televisão, de várias partes do mundo, mas em especial a CNN americana e a Globo brasileira, davam conta de que os americanos estavam chocados com os atos terroristas que acabavam de presenciar, mas que estavam muito mais impressionados com o simbolismo que o ato representava.
Desgraçadamente, em minutos, as imagens foram transmitidas, a mensagem foi decodificada e imediatamente disseminada para o planeta por todas as emissoras de televisão, rádio e internet.
Analisado por esse ângulo, o plano terrorista tinha atingido certeiramente, não só o alvo, mas também seus objetivos.
Apenas por esta primeira e superficial análise já se pode concluir que, por mais ou menos violento ou cruel que o ato venha ser, de terror ou por imposição de domínio, o seu sucesso dependerá do quanto o fato for divulgado, o quanto repercutir nos meios de comunicação.
Como reforço das mensagens, no caso do World Trade Center, ficaram as imagens cinematográficas dos aviões se chocando contra as torres, a avalanche de fumaça e pó desmoronando sobre as ruas e agora, as imagens das noites iluminadas de khabul explodindo em chamas reluzentes. Além de uma retórica de ameaças e contra ameaças fortalecendo o noticiário diariamente.
Trata-se de um círculo vicioso, alimentado por crenças, fé, interesses econômicos, liberdade e soberania, todos criados por fanatismos e idealismos sem fundamento e desnecessários.
Relações Públicas define, de acordo com sua fundamentação técnica e científica, que a opinião pública só existe a partir da controvérsia pública e ela é influenciada pela força das massas e somente por ela. Não se trata de opinião da maioria, nem de consenso, nem muito menos de forte liderança. As diferenças existentes somente serão resolvidas quando as partes, de maneira consciente, buscarem satisfazer os interesses envolvidos e harmonizarem as expectativas conflitantes.
A paz no mundo não será conseguida de outra maneira senão a partir da própria auto crítica, da própria auto avaliação e do reconhecimento - de maneira altiva - de que há necessidade de primeiro compreender e respeitar a presença e participação do outro no mundo, para somente depois negociar a paz, sem guerra.
É necessário que os veículos de comunicação - que pela própria natureza e essência, não podem deixar de repercutir os fatos no mundo - tenham consciência desses conceitos e se deixem levar pelos preceitos intrínsecos que possuem sobre responsabilidade social e utilizem o bom senso para que as mensagens não sejam transmitidas exatamente como os seus autores planejaram.
Que os meios de comunicação tenham discernimento e bom senso para transformarem esses fatos desastrosos em campanhas de conscientização e motivação para a harmonia e a paz, sem despejarem todo o entulho da informação sensacionalista sobre a opinião pública, porque senão, mais tarde, eles próprios serão julgados pela opinião pública, pela postura que assumirem agora.
E que isso se estenda a todas as nações, governos, sociedades, comunidades, organizações, universidades, escolas, famílias e pessoas.
Que todos possam ter a virtude de praticar um pouco mais os conceitos de respeito mútuo e solidariedade para acabar com a violência da fome, da desnutrição, da saúde, da educação, sem imposições mercantilistas econômicas. Sem divisões entre leste e oeste, norte ou sul, sem disputas entre união européia, países asiáticos, oriente médio, ou mais próximos de nós, o Mercosul.
Que todos sejam bem-aventurados e tenham a sensibilidade para traduzir e transmitir, através de suas experiências, as formas e as fórmulas que levem ao caminho da sobrevivência, da segurança e da harmonia entre os povos.