Desde quando iniciava minha carreira, já ouvia, nas rodas de profissionais, comentários sobre como o Direito e Relações Públicas poderiam associar suas causas. Algumas discussões eram que, do ponto de vista de suas naturezas, as causas das duas áreas se assemelhavam no sentido de fazer justiça e criar o bem comum. É claro que estou me referindo a um nível elevado de atuação de Relações Públicas e não ao modo midiático como ela se configura muitas vezes, hoje.
Lembro que havia muita discussão sobre questões éticas ligadas à defesa de clientes, já que as duas atividades compartilham os mesmos objetivos. O direito luta para dar ao seu cliente o melhor julgamento e o ganho de causa, enquanto Relações Públicas atua no sentido de levar a melhor informação, harmonizar expectativas e criar imagem positiva.
Mas dessa vez, os profissionais das duas áreas foram além do que se contava. Eles querem entender como as duas áreas se completam para orientar o processo legislativo às políticas públicas e na relação social entre quem faz as leis e quem é diretamente atingido por elas. Também querem receber a consultoria técnica dos relações-públicas e compreender como os fenômenos sociais, suas percepções e expectativas ocorrem.
Quem pode contar essa historia inteira para nós é a Profissional de Relações Públicas Elaine Lina de Oliveira, que faz parte da Comissão de Direito na Sociedade da Informação da OAB – SP e dirige a coordenadoria de Relações Públicas da comissão.
Nessa entrevista, você irá conhecer a diversificada experiência de Elaine e, pela riqueza das informações, ampliar sua visão de como a atividade de Relações Públicas pode contribuir para o aperfeiçoamento de outras atividades.
Confira e reflita.
Como foi que você escolheu o curso de Relações Públicas? Foi uma decisão consciente?
Sim, totalmente. Ao contrário da maioria dos jovens, não prestei vestibular assim que concluí o ensino médio. Fui para o mercado primeiro, onde trabalhei por seis anos com contabilidade, finanças, logística e comércio exterior. Tive a oportunidade de atuar em empresas de grande porte e conhecer bem o funcionamento estrutural delas e entender a necessária sinergia entre departamentos e operações. Hoje essa visão faz toda diferença na hora de preparar um planejamento de Relações Públicas. Prestei vestibular aos 24 anos, depois de fazer pesquisa detalhada sobre a profissão que melhor atenderia meu perfil e minhas expectativas. Relações Públicas apareceu com total compatibilidade ao que estava buscando e quanto mais me informava sobre a profissão mais tinha certeza de que era a mais adequada para mim. Deixei o cargo que ocupava como chefe de exportação em uma trading company e comecei a estagiar no 3º semestre da faculdade. Nunca mais saí da área e, hoje, me sinto realizada.
Onde e quando você se formou?
Eu me formei na segunda turma de Relações Públicas das Faculdades Integradas Rio Branco (Firb), da Fundação de Rotarianos de São Paulo, em junho de 2004. Em agosto do mesmo ano já ingressei no curso de pós-graduação em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas da ECA-USP.
Você atua também como docente na FAAT orientando grupos especiais de alunos na região bragantina. Fale um pouco dessa experiência e de seus resultados.
Por meio da agência experimental temos buscado parcerias com as prefeituras e órgãos municipais, bem como com associações, convencion & visitors bureau e também com o empresariado local no desenvolvimento de projetos conjuntos. O melhor resultado é o perceptível aumento na compreensão da população sobre o que fazem as relações públicas e como elas podem ajudar nos negócios. O que mais nos orgulha é que muitos têm sido contratados em sistema de estágio por esses parceiros e outros já estão se tornando empreendedores. No último vestibular e pelo segundo ano consecutivo o curso de RP foi o mais procurado entre os de Comunicação Social da FAAT. Este tem sido um trabalho realmente muito gratificante.
Você é a atual presidente do Conselho Regional de Profissionais de Relações Públicas – SP/PR. Considerando que se trata de uma autarquia de fiscalização profissional, como você conduz esse processo num mercado tão liberado profissional e tecnicamente como o de hoje?
Este é um assunto bem-revolvido que lidamos com muita naturalidade, transmitindo essa tranquilidade aos profissionais, empresas e instituições com as quais nos relacionamos no Conrerp. Vivemos um Estado Democrático de Direito, temos leis regulando todas as relações sociais e profissionais e elas devem ser seguidas e respeitadas. Quando não concordamos com elas, mais uma vez a democracia deve prevalecer e os questionamentos devem também seguir os meios legais. O Conferp realizou em 2008 uma pesquisa que teve a finalidade de propor um novo projeto para atualizar a lei que regulamenta nossa profissão. Tanto no Parlamento Nacional em 97, quanto nesta última consulta pública a opinião geral foi de que o Sistema Conferp tem este importante papel e deve ser mantido. Ele deverá ser adequado ao novo contexto social, mas sua função fiscalizadora e reguladora foi e deve ser reforçada.
Além de seu trabalho docente e no Conrerp, você também atua no mercado com sua própria agência. Como ela é constituída e quais trabalhos desenvolve?
Na verdade, eu sempre prestei serviços de consultoria e assessoria de forma autônoma. Agora me associei a outros profissionais abrindo uma nova empresa. No grupo não há apenas Profissionais de Relações Públicas, há também publicitários, jornalistas, profissional de RTV e designer gráfico, o que nos possibilita desenvolver projetos bem diversificados e integrados. Sabemos que o mercado é concorrido, por isso estamos focando em segmentos específicos e nichos promissores. Nesse momento, estamos desenvolvendo um novo produto em conjunto com outra empresa de software. Não posso revelar ainda, mas garanto que virá uma boa novidade por aí. Aguardem.
Se não bastasse tudo isso, você tem ainda acento, como consultora de Relações Públicas, na Comissão de Direito na Sociedade da Informação da OAB – SP. Como foi que chegou nesse projeto e que tipo de trabalho você desenvolve na comissão?
Esta comissão nasceu da iniciativa de alguns alunos da primeira turma de mestrado em Direito na Sociedade da Informação, da FMU, em 2007. Fui convidada por amigos dessa turma e desde então, o grupo cresceu muito. Ele conta, hoje, além de alunos, professores da pós e profissionais do Direito, também com representantes de diversas áreas de atuação como engenheiros, economistas, sociólogos, comunicólogos e executivos de empresas. Trata-se de um grupo diversificado cuja proposta é a interação multidisciplinar e sua integração como forma de aproximar o exercício jurídico da sociedade de fato. Concluiu-se que, para discutir a sociedade da informação, do ponto de vista jurídico, era preciso entender como ela se forma, como interage em suas diversas vertentes, que tipo de conhecimento produz e como tudo isso interfere e sofre interferência da área jurídica no dia-a-dia. Com esse espírito, formaram-se coordenadorias que tratam de temas específicos como inclusão digital, direito do consumidor, direito à informação entre outros. A discussão se dá por meio de fóruns e eventos científicos que culminam com a produção de anais e pareceres. Uma dessas coordenadorias é a de Relações Públicas, da qual tenho orgulho de fazer parte ao lado de outros colegas, como a professora doutora Sidinéia Gomes Freitas e, claro, alguns juristas. Nesta coordenadoria discutimos temas ligados ao processo legislativo, às políticas públicas e a relação entre quem faz as leis e quem é diretamente atingido por elas.
Qual a contribuição de Relações Públicas para as atividades do direito em suas diversas áreas? O direito poderá ficar mais humanizado com a compreensão de Relações Públicas?
As Relações Públicas ajudam justamente no equilíbrio da equação do Direito como “conjunto de normas da vida em sociedade que buscam expressar e também alcançar um ideal de justiça, traçando as fronteiras do ilegal e do obrigatório” (segundo Aurélio) e a Comunicação Social como “um campo de conhecimento acadêmico que estuda a comunicação humana e questões que envolvem a interação entre os sujeitos em sociedade” (segundo wiipedia). Assim, nada mais lógico que ambas as áreas interajam e busquem as melhores alternativas para a vida em sociedade.
As leis devem atender às demandas sociais e refletir a evolução da sociedade. Sem relacionar-se com os grupos sociais que serão atingidos pelas normas estabelecidas e sem a consultoria técnica de quem domina cada fenômeno social, o Direito acaba por distanciar-se da realidade e não é esta a intenção.
Para citar um exemplo prático desta relação, temos as próprias decisões do Conrerp: a assessoria jurídica de advogados competentes nos auxiliam e representam nas questões e procedimentos jurídicos, interpretação das leis e trâmites legais – mas os pareceres técnicos sobre a atividade profissional de Relações Públicas, o que a compõe na esfera de atuação e a interpretação de termos técnicos específicos são competências que somente os profissionais de Relações Públicas possuem. Por isso, os advogados precisam reunir-se conosco para compreenderem esta seara e assim definirem as melhores estratégias jurídicas.
Outro exemplo de sucesso é o evento realizado pela comissão para debater TV Digital. Foi uma discussão riquíssima entre advogados, engenheiros especializados, comunicadores e sociólogos, acrescentando conhecimento a todas as áreas e esclarecendo aos advogados presentes muitos pontos que, inclusive, foram levados depois para a sala de aula, rendendo boas discussões de âmbito jurídico no mestrado de Direito.
Tenho certeza de que o que se discutiu ali não se limitará às salas de aula, mas sim em breve refletirão no nosso dia-a-dia, pois mudou o modo de pensar sobre o assunto de cada um dos profissionais ali presentes.
Será possível aos profissionais do direito assumirem funções mais orientadas por Relações Públicas?
Não só é possível como eles têm buscado cada vez mais esta assessoria. Na OAB tenho constatado a crescente preocupação dos profissionais do Direito em desenvolver um trabalho de comunicação e relacionamento de forma profissional e eles encontraram em Relações Públicas a assessoria adequada que precisavam. Recentemente a revista Visão Jurídica publicou matéria abordando exatamente este assunto e destacando o que as Relações Públicas podem fazer por estes profissionais. É hoje um campo muito promissor para nossa atuação.
Desde sua formação, você desenvolve uma carreira extremamente rápida e rica. Você planejou essa trajetória profissional ou ela aconteceu naturalmente?
Gostaria de dizer que planejei tudo, mas na verdade não foi assim. As coisas foram simplesmente acontecendo. Gosto de me cercar de pessoas com as quais posso aprender e com isso estou sempre me envolvendo em novos projetos. É uma verdadeira roda viva e fico feliz em saber que ainda há muito o que aprender e construir.
Você é especialista em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional. Como você vê a gestão da comunicação nas empresas atualmente?
Tenho a impressão de que a comunicação realmente planejada, estratégica em seu real significado, ainda é um privilégio de poucas empresas. Mas também, vejo um crescimento da percepção de que para fortalecer a imagem da empresa com a opinião pública é preciso melhorar a comunicação com a sociedade e as empresas estão encontrando isso em Relações Públicas.
Que mensagem gostaria de deixar para os profissionais que atuam na área de Relações Públicas.
Que busquem o constante aperfeiçoamento e que interajam ao máximo com as demais áreas – não só da comunicação, mas da administração, do direito, do que for. Uma antiga professora dizia que “saber não ocupa espaço” e, no nosso caso, é obrigatório que tenhamos, todos, uma postura de eternos estudiosos das relações pessoais.
Quem quiser trocar informações com Elaine Lina pode enviar mensagem para o endereço elainelina@uol.com.br
Se você quiser enviar um comentário para o universoRP.net, mande sua mensagem para universorp@univesorp.net